sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Minha mãe não sabia escrever

Moça no Jardim de Claude Monet
Não era para ser uma história triste, mas também não era para ser a mais feliz.
Não era para ser longa, nem curta; não era para ser comparada ou criticada. Era para um dia ser lembrada.
Na verdade, não era para ser uma história porque era uma vida inteira e real.
Minha mãe não sabia traçar planos duradouros e isso nunca teve problema. O que importaria mais do que conquistar tudo antes que o futuro chegasse?
Ela não sabia como contar uma boa história, por isso, a procurava num livro, numa música ou em alguma história que não fosse a sua própria.
Acreditava que grandes sonhos podiam transformar qualquer realidade, simplesmente porque soava como algo totalmente manipulável.
Com um pouco de cor, sons, recortes, rabiscos e sorrisos, era possível criar um presente diferente.
Me pergunto se existe uma forma correta de viver ou uma verdade para cada tipo de pessoa. Porque nem sempre dá tempo para atestar duas verdades, conhecer dois lados ou andar por muitos caminhos opostos.
Aprendi que o coração é o medidor das incertezas, mesmo que se revele vulnerável.
Se existir dúvida, é obra do cérebro. Esse sim, exato e quase sempre previsível.
Minha mãe ouviu falar na felicidade e aí, não quis mais outra coisa. Aprendeu a encantar como ninguém, foi admirada, e sabia disso.
Tinha um jeito para fazer as coisas mais simples, assim como todo mundo deve ter. Mas sua vida era só dela, sem exatidão.
Minha mãe não sabia escrever uma bela história e passou a escrever a de outras pessoas, por exemplo a minha.
Contou sobre o tamanho de uma vida, sem limitações que possam impedir sua continuidade. Me convenceu de que não há sofrimento que possa competir com a sua imensidão.
Ela não sabia escrever algo que não pudesse pertencê-la. Então, viveu e a vida se encarregou de criar a história.
Conheceu os vários aspectos de si mesma. Tentou, desistiu, sofreu, amou, reconstruiu e redescobriu: no final, a vida é uma fuga de tudo aquilo que não se quer viver.
Nesse raciocínio, pensar em escrevê-la é pura perda de tempo, já que a última versão da história não será de sua autoria...rs

Trilha: Aula de Francês/Tiê

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Antibiótico conjugal

Arte de Flávio Vasconcelos
Segundo minhas estatísticas, um casal é feito de encanto, expectativas, desejos e uma dose de uma substância sensivelmente inflamável e nociva ao amor (fruto do cultivo mútuo do mesmo... rs) .
Do encantamento imediato surgem as expectativas, que acompanhadas pelo desejo, transformam um par de qualquer coisa num emaranhado de beleza, brilho,  luzes, perfumes agradáveis, suavidade e frescor, ai...
A partir daí, prepare-se! Qualquer passo em falso ou deslize , certamente, resultará em conflito.
Lembra da substância inflamável? Não há conto de fadas no mundo que resista ao seu poder!.. rs
Costumo dizer que nas relações amorosas, os envolvidos se revelam seres extremamente sensíveis e falo isso em todos os aspectos possíveis.
Dependendo dos casos ,cada atitude ou resposta precisa ser minuciosamente estudada. De repente,  "Cala a boca!" vira "Podemos conversar depois, meu amor?"... rs
"Cala a boca!" serve bem entre irmãos e amigas inconvenientes. E se vier acompanhado por um sorriso, garante a boa relação de volta em 15 minutos!
Agora, experimente dizer isso para uma parceira com TPM enquanto vc assiste TV.
Na vida de um casal, tudo pode mudar a qualquer momento e o que era "fofo" vira um pesadelo melecado de tédio e coisas sem sentido....
Entre a profundidade do decote e o telefonema não dado, existe uma estrada a ser percorrida que passa pela raiva, ciúme, desconfiança, egoísmo, até brecar no ódio e então cair várias escalas. Ao chegar no poço da ignorância é hora de subir, afinal quem estará do lado de fora a te esperar  com um belo sorrisão se não  o bom e velho AMOR?! No final, o único antibiótico para tanta bobagem... rs
Acredito que qto menos se sabe sobre a criatura que te completa, mais brotam "substâncias inflamáveis". Elas são feitas de tudo de ruím existente entre pessoas que escolhem permear suas relações no amor, ou seja, completamente superáveis pela base que escolheram.
Eu diria que radical mesmo é quem se enfia nisso.

Trilha: uma qualquer da Rihanna no rádio.