quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Bebeu água doce, virou beija-flor



                                                                     









Aperta os olhos, fixa distante, avista cor.
Um pouco de descuido e o amanhã vira amor.
Usa o  mais sincero para chegar sem sentir dor, rancor
Um pouco de clareza, de perto nada é igual.
Habilidoso, marca o tempo, desembaraça.
Um pouco de leveza e o pouso vira coreografia.
Um pouco de distância e o coração encena.
Muda o rumo, passa a morte, passa o céu, passa o chão
Não vê que o preço da vaidade é se perder?
Acena.
Um pouco de desejo e o longe fica perto
um pouco de ânsia e o mundo, incerto
Não tem flor, nem passarinho,
um pouco de alegria e vida parece que é boa. À toa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Entre ela e o nada, um tratado

Sempre divaguei na esperança de um dia tornar estática, reorganizar e poder mostrar o que sou.
Decidir que meu tempo não seja mais paralelo. E também não sufocá-lo em devaneios.
Mas, amanhece o dia, a hora passa e o tempo muda de figura.
Quando criança, achei que pudesse materializar meu mundo. Aí cresci e descobri que posso. Então, todas aquelas histórias que  fantasiava e escrevia ganharam cor e personagens reais, incrível!
Tudo continua igual porque talvez tenha parado esse tal tempo. Confesso que não foi tarefa fácil.
Quando tudo contradizia minhas ideias, eu brigava por elas. Quando deixava de acreditar, renasciam.
Retomei cada pedaço de texto, encontrei o sentido e a mensagem que tem lá e bradei (para mim): "Não deixarei que os pensamentos morram em mim!".
Soa heroico, dá até vontade de rir. Mas, engraçado mesmo seria continuar falando sim, pensando não; seguindo em frente, sem pé no chão.
Pé nas nuvens, de uma em uma. Às vezes pisa fundo, quase cai. Depois se levanta e flutua.
Se olhar para baixo, tenho medo de altura, "Olhe para cima, Uuka!", dizia minha mãe, ou meu pai. Não me lembro.
Uma vez fiquei parada na ponta da escada rolante, vendo minha família subir. Não sei porque tive medo de acompanhá-los, fiquei confusa. E, quando já não podia mais ficar lá em baixo, tomei coragem e pisei no degrau.
Aventura pouca, mas parei meu tempo para pensar no que fazer.
Fiquei habilidosa... qualquer sinal de confusão, parava meu tempo e como num jogo qualquer, mexia as peças e continuava. Fiz um trato, sem sangue nem nada, prometi. Mas pacto de uma pessoa só logo se perde.
O tempo sacou meu lance e começou a sacanear.
Pára minha vida, mexe as peças, troca sentimentos, coisas e pessoas de lugar e recomeça.
Mexe com as palavras, antes mesmo de saírem da boca e desorganiza tudo ao seu modo.
Engana os pensamentos, apaga memórias, inventa outras, um desorientado!
Tenho pensando numa estratégia para driblar o movimento da mente; em vão.
Estratégia 2: é melhor me aliar ao tempo, alinhar. Porque aí não troco mais o tal do 6 por meia dúzia.
Nem meio dia por meia hora; nem transformo escada rolante em solidão.
A escada é legal porque é isso de tempo e espaço, até confunde. É tempo dentro de tempo, desalinhadamente alinhado.
Ali, o tempo acontece parado, como num tratado: — Vem que eu te espero!
— Não sei se ainda dá tempo.
— Ora! Aqui é promessa do tempo. Vem que ainda dá!
Pára, respira, pensa e vai. Sobe mais um degrau enquanto a escada se move.
Eu me arrisco a dizer que dá para pensar no que fazer, ainda dá.

E não, isso não é texto de auto-ajuda. É puro delírio rs

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Casa dentro

Caicó/RN
Subi dois lances de escada extensos. Parei, bebi um copo d'água, tomei fôlego. Voltei a subir.
De longe dava para enxergar o topo, um palácio.
Entrei e dei de cara com um soberano rei, entrelaçado a todo o resto. Irônico, insensível, fugaz.
Parece que controlava tudo não fosse o morador do andar de baixo...
Desci um lance de escada e as pequenas janelas nada pareciam mostrar. Engano meu.
Sua dimensão era inimaginável. Impressiona qualquer um. Quando fechadas, não fazem esconder nada. E, ligada as duas outras arestas, fazem perceber tudo com sensibilidade. É encantador.
No andar de baixo.. Ah o andar de baixo...
Tinha algo inquieto, pulsante, sutilmente inquieto, beirando à confusão.
Destemido também, não dá para negar.
Sensível a tudo, a qualquer movimento, sensação. Vive ali, nunca sai. Nunca dorme, nem relaxa. Relaxar seria o fim; trágico.
Bem no meio da escadaria, um emaranhado de fios, levando energia, trazendo, misturando.
E, aquele monte de quartos, inúmeros deles! Cada um guarda o que bem quiser; são vivos.
Eu me deparei com os mais tristes, sombrios. Quase não pude escapar.
Sorte foi ter encontrado um oposto.
O lugar é muito grande, exageradamente grande, embora não pareça. É vivo e muda o tempo todo. Pisque os olhos e muda o contexto. Pisque outra vez e tudo volta a ser como era antes.
Até certo tempo, não se podia perceber sua imensidão porque é contraditória.
Fora, é menor do que dentro. Mas fora, é sedutor.
Engana, encanta, domina, extrai. Nunca vi nada parecido; também nunca consegui ir para lá.
Não é medo, é destreza.
O mais difícil de caminhar dentro é não ter o endereço. Você precisa ter habilidade para saber onde quer chegar.
Fora não. Tudo tem rota, tem rastro, tem cheiro. É lindo!
... Mas, aquela escadaria não tem fim. Mas é uma escadaria e cansa como qualquer outra.
O rei soberano te faz ficar enquanto o inquieto pulsante te quer fora dali.
Irônico é que ele nunca sai dali... também porque morre.
De repente dentro seja mais seguro, mesmo que exista e não exista ao mesmo tempo.
Fora não. Tudo existe, de um jeito só. É pobre... nem tanto.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Linha guia

Eu tenho um defeito. Tem meu nome, meu formato e pesa duas vezes mais do que posso carregar.
Eu tenho um defeito. É inconveniente, mais ousado do que eu; responde por mim.
Eu tenho dois defeitos. Na verdade tenho três.
Eu tenho dois defeitos curáveis, quase imperceptíveis, não dá para ver se não souber me enxergar a alma.
Eu tenho um defeito. É massa cinzenta em cima da minha cabeça; embaraça as vistas, faz chorar.
Eu tenho dois defeitos bobos. Não ferem ninguém além de mim.
Mas, eu tenho um defeito. Grave, grande, grotesco, grosseiro; grita e corta. Sobrevive
Eu tenho dois ou três defeitos. Prisioneiros de mim desde sempre. Comem o meu juízo; todo ele.
Eu tenho um defeito. Foge, mas sempre volta. Morre, renasce, recria, reproduz; acaba?
Eu tenho um defeito só meu.