terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Casa dentro

Caicó/RN
Subi dois lances de escada extensos. Parei, bebi um copo d'água, tomei fôlego. Voltei a subir.
De longe dava para enxergar o topo, um palácio.
Entrei e dei de cara com um soberano rei, entrelaçado a todo o resto. Irônico, insensível, fugaz.
Parece que controlava tudo não fosse o morador do andar de baixo...
Desci um lance de escada e as pequenas janelas nada pareciam mostrar. Engano meu.
Sua dimensão era inimaginável. Impressiona qualquer um. Quando fechadas, não fazem esconder nada. E, ligada as duas outras arestas, fazem perceber tudo com sensibilidade. É encantador.
No andar de baixo.. Ah o andar de baixo...
Tinha algo inquieto, pulsante, sutilmente inquieto, beirando à confusão.
Destemido também, não dá para negar.
Sensível a tudo, a qualquer movimento, sensação. Vive ali, nunca sai. Nunca dorme, nem relaxa. Relaxar seria o fim; trágico.
Bem no meio da escadaria, um emaranhado de fios, levando energia, trazendo, misturando.
E, aquele monte de quartos, inúmeros deles! Cada um guarda o que bem quiser; são vivos.
Eu me deparei com os mais tristes, sombrios. Quase não pude escapar.
Sorte foi ter encontrado um oposto.
O lugar é muito grande, exageradamente grande, embora não pareça. É vivo e muda o tempo todo. Pisque os olhos e muda o contexto. Pisque outra vez e tudo volta a ser como era antes.
Até certo tempo, não se podia perceber sua imensidão porque é contraditória.
Fora, é menor do que dentro. Mas fora, é sedutor.
Engana, encanta, domina, extrai. Nunca vi nada parecido; também nunca consegui ir para lá.
Não é medo, é destreza.
O mais difícil de caminhar dentro é não ter o endereço. Você precisa ter habilidade para saber onde quer chegar.
Fora não. Tudo tem rota, tem rastro, tem cheiro. É lindo!
... Mas, aquela escadaria não tem fim. Mas é uma escadaria e cansa como qualquer outra.
O rei soberano te faz ficar enquanto o inquieto pulsante te quer fora dali.
Irônico é que ele nunca sai dali... também porque morre.
De repente dentro seja mais seguro, mesmo que exista e não exista ao mesmo tempo.
Fora não. Tudo existe, de um jeito só. É pobre... nem tanto.

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