Entre nós o sexo oposto
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Em 1968 ainda era ousado uma mulher como eu, dizer o que pensava assim. Era tão arriscado, que poderia morrer solteira e mal vista pelos poucos rapazes que tentavam me cortejar.
Meu pai sempre foi muito moralista, cheio de verdades e virtudes. Escolhia desde minhas roupas, até as pessoas com quem deveria me relacionar. Digo relacionar no sentido de relações no geral entre amigos, colegas, família...
Ainda jovem, decidi que faria o que ele achasse melhor para mim, ainda que eu discordasse, ainda que sofresse.
Foi mais ou menos assim que passei parte de minha vida. Dizendo coisas que não queria dizer, suportando outras que jamais imaginei; discordando, me indignando e vendo ficar distante o ideal de uma grande mulher... vivendo apenas.
Tenho um marido como outro qualquer, dois filhos, uma casa pequena e um jardim enorme e florido. Tive um único cachorro que morreu logo que mudamos para cá; coleciono algumas viagens, sorrisos elogiados, mas poucos amigos.
Não imagine que foi exatamente assim que me tornei uma mulher frustrada, porque isso aconteceu ao longo da vida, vendo a vida passar.
Quando as 400 ativistas se reuniram em Atlantic City, era pensando nas mulheres de um futuro próximo, como 2011. Acho que no fundo elas sabiam que tudo seria assim.
Tenho certeza que a intenção não foi fechar portas, mas trazer um pouco de cautela na abertura delas.
O protesto era para que hoje, mulher não fosse sinônimo de luta por igualdade. É difícil brigar por algo que deveria ser igual desde sempre.
Aquele tipo de exposição não contava com atributos do corpo e poucas ideias. Sem apelos sexuais, elas conseguiram ser lembradas desde então. Hoje, fato quase fora de contexto.
Elas não imaginavam que com o passar do tempo, ocorreriam muitas divisões entre nós, fazendo surgir inúmeras categorias de mulheres.
No final acabamos brigando entre si, disputando o brilho dos cabelos, os mililitros do silicone e a marca do batom. Nos desentendemos entre duas, três ou quatro por causa de um único homem. Passamos o nosso tempo comparando beleza, vestidos e sapatos e, como inimigas mortais, somos capazes de planejar uma a derrota da outra, sem piedade, mas com doçura e cinismo
Nos tornamos rivais, a começar pela fruta que acreditamos ter embutida no corpo. Aprendemos a chorar para conseguir, seduzir para conseguir, aliás, somos ótimas nisso.
Quando aquelas mulheres se reuniram por "Pão e Paz", não era para deixar existir a categoria "mulherzinha", mais vazia e aproveitada do que embalagem de Victoria Secret's de moça pobre. Era para que nos tornássemos amigas, cúmplices e vencêssemos juntas, fosse com cabelos castanhos ou loiros; com sutiãs grandes ou pequenos; com ou sem roupa. Sem perder o encanto, era para que cada uma colecionasse grandes conquistas e não surras de marido ou uma berada dos espaços sociais.
Tenho certeza que aquelas operárias da fábrica de tecidos de NY se manifestaram para que nosso trabalho fosse visto com a mesma dignidade de qualquer outro e para que não existissem barreiras tão insolúveis ao ponto de perdurarem por mais de 1 século.
Sem perder o medo de baratas, era para que tivéssemos grandes ideais, assim como grandes bolsas e mega hair.
Não era para sentir vergonha alheia, nem para optar por apelos decepcionantes. Era só para que fossemos muito mais fortes, com propósitos nas ações.
Hoje, me lembro da época com que tudo aconteceu com saudade e vontade de recomeçar. Passei parte de minha vida refém de uma indignação crescente, observando... vivendo apenas.
Mesmo assim, me sinto feliz por não ter concordado, mesmo que calada e concluo que, mulheres são diferentes dos demais porque podem ser mães mesmo sem ter filhos, ser fortes mesmo sem parecer, iguais mesmo sem ser. Por isso, são opostas desde o corpo até a alma. Isso já basta.
Longe de mim esse texto ser de criação própria!... rs
Trilha: As I Come Back / Busta Rhymes
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