terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ela dama, eu vagabunda




Preferi não levantar de manhã, tive vergonha. Mais dela do que de mim, é verdade.
Optei por ser mais ácida, fingir nunca foi do meu feitio. E, embora meu grito tenha sido para dentro, fiquei em evidência sem querer.
De um lado a vida floriu até os cabelos. Do outro, pôs fogo.
Engraçado como a flor secou e o fogo virou luz. Ela dama, eu vagabunda, quem se habilita?
De sorriso em sorriso fez uma gargalhada provocantemente insosa; patético.
Discordando de tudo, batendo de frente com qualquer coisa, fez uma casca grossa, insuportavelmente isoladora; patético.
Se alimentou de bom-senso, vomitou insegurança na noite fria, sozinha.
Diz não ter medo da vida e se refugia na história de outra.
Aproveita, se aproveita. Engana-se de coração aberto e sofre mais do que todo mundo, afunda.
Ela dama, eu vagabunda. Algum qualquer se habilita?
Se eu me fartei em conversas vazias, preenchi o espaço que não é mais seu. Fiz piada, sorri.
Se eu me fartei em ingenuidade, escrevendo a história do meu jeito. Mantive bons costumes, caí.
Ser sem não ser custa caro. O que não custa nada é ser o que não quer; vale a vida.
De manhã, preferi levantar da cama. E, se tive vergonha foi dela, não de mim, é verdade.
Optei por ser ainda mais doce, ainda que exagere no que posso mostrar de bom.
E embora meu grito tenha sido para todo mundo ouvir, não fiquei evidente o quanto queria.



Nenhum comentário:

Postar um comentário