quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

1, 2, 3

O barulho que ouvi vindo lá de fora era a chuva forte que caía incessante.
Continuei deitada olhando para o teto, esperando chegar na testa o primeiro pingo da goteira que se formou.
Na idade média isso era tortura e ouvi dizer que  podia até enlouquecer alguém.
Fiquei por lá umas cem gotas, e cada uma que caía me remetia uma nova lembrança, bem rápido. Era um teste.
A princípio relembrei minha infância e todas aquelas bobagens lindas de criança que ficaram para trás.
O Nino (meu cachorro de pelúcia) eu trouxe comigo, e aquele vestidinho branco rodado também.
Queria mesmo era ter trazido o macacão jeans que virou música de tanto alegrar as tardes quentes do interior de São Paulo.
O Cheetos bola e as garrafas de Sprite também não vieram, mas carrego aqueles açúcares e gorduras bem localizados na minha barriga rs
Enfim, as gotas subsequentes me trouxeram uma adolescência turbulenta, e duas ou três gostas depois, veio o sorriso da minha mãe, meu avô tocando violão, minha avó fazendo pirulito de açúcar queimado.
Se lembrança tivesse cheiro, as minhas seriam sempre de calda de açúcar caramelado...
Muitas outras gotas depois cansei de me lembrar e passei a imaginar.
No teto, a gota se formava, caía na testa, fazia um buraco (sem sangue nem nada), varava o travesseiro e a cama, passava pelo chão. Umedecia a terra e levava um pouco do meu pensamento furado .
Foi assim até preencher o caminho aberto com chuva.
A terra se fazia dos meus segredos e contava para todo mundo o que eu queria esquecer.
Meu sono se fora ali, naquele mar de chuva. Fiquei acordada, esperando o dia nascer....
O mundo que vi de manhã era o meu, esse que a terra fez brotar.
Mas, anlisando bem, isso tudo seria muito louco, quase sem sentido.
Meu mundo cabe em mim e já me basta. Parece que tudo se encaixa, mesmo nos lampejos do meu pensamento furado.
Eu gosto mesmo é de guardar, não expor.
Até porque essa coisa genial de imginar só tem vida se não ganhar uma.
De gota em gota vou virando gente rs

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